Não precisa vestir o camuflado e muito menos vir com pezinhos de lã. Apenas necessita de caminhar serenamente como qualquer vulgar transeunte urbano que diariamente ali estaciona o seu automóvel logo pela manhã. Não chegue muito tarde pois o bando abandona o local pelas 8:00h e só começa a regressar novamente por volta das 17:00h. Inicialmente visitantes desconfiados, rapidamente adotaram o antigo barreiro da Fábrica de Cerâmica na Fábrica Jerónimo Pereira Campos para sua residência habitual, todos os dias durante os últimos 5 meses. (entre NOV2014 e ABR2015)
O que é facto é que, apesar do inegável potencial urbano, paisagístico, natural, cultural, científico e económico, intrínsecos ao local, esse teima em não querer emergir das profundas águas.
Na escarpa ali existente é revelada uma estratificação geológica importante que já mereceu o epíteto de “geomonumento” pelos estudiosos aveirenses. Aí foram ainda referenciados importantes achados - escamas de peixes, fetos, moluscos terrestres e lagunares e vários sinais fossilizados. Ali é hoje avistada uma riqueza ornitológica selvagem, digna de fazer inveja a muitos e dispendiosos zoos urbanos ou até a longínquos destinos turísticos de birdwatching – ali se descobrem: garças-brancas-pequenas, garças-boieiras, garças-reais, patos-reais, patos-marrequinhos, galinhas d’água, bandos de pombos em jornada, rolas, várias espécies de gaivotas, entre muitas outras espécies de identificação mais exigente.
A riqueza e unicidade deste sítio urbano, em termos de património geológico, geomorfológico, paleontológico, e a sua ligação às origens desta terra, bem como ao florescimento da própria cidade que prosperou à custa do barro que foi buscar às suas entranhas, revelam bem toda a sua especificidade que importa explorar e tirar partido em prol da história, da cultura e da economia desta urbe.
Talvez o regresso do imponente bando não tenha acontecido por acaso, e traga consigo missão nobre, a de nos lembrar de um tempo em que as coisas simples davam o nome às terras e aos lugares. Tal como as aves naturalmente deram o nome a Aveiro, a simples e despretensiosa preservação e requalificação do local, desafogando-o do previsto betão e semeando funções compatíveis envolventes, pode constituir uma excelente oportunidade para a criação de um ímpar e atrativo local lúdico e de divulgação, da história, da cultura, da ciência e da biologia aveirenses. A devida integração com os roteiros temáticos e museológicos da cidade e da região e ainda com os equipamentos e serviços a envolvente próxima (alguns a reinventar como a capela de São Tomás de Aquino e as chaminés das cerâmicas perdidas e outros a potenciar como o Hotel Mélia e o Centro Cultural e de Congressos) conferem alguns ingredientes de sucesso, logo à partida.
O Programa Operacional Regional do Centro 2014-2020, prevê a alocação de fundos europeus dirigidos a projetos que afirmem a sustentabilidade dos territórios, onde se incluem iniciativas relativas à conservação e valorização do património natural e cultural. Esperemos que as forças vivas aveirenses, com responsabilidade na matéria, não esqueçam as garças! Espera-se deles também um ar da sua graça, potenciando os recursos endógenos e únicos aveirenses, no aproveitamento sábio dos recursos financeiros disponibilizados pela União Europeia. Urge assim que se materializem novos projetos e soluções, geradoras de atividades multiplicadoras de empregos e integradoras de várias valências locais, podendo o turismo urbano ser um filão a explorar sustentavelmente por Aveiro, por muitos e muitos anos.
Manuel Teixeira (Publicado no Diário de Aveiro em 12 abril 2015)
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico
Na escarpa ali existente é revelada uma estratificação geológica importante que já mereceu o epíteto de “geomonumento” pelos estudiosos aveirenses. Aí foram ainda referenciados importantes achados - escamas de peixes, fetos, moluscos terrestres e lagunares e vários sinais fossilizados. Ali é hoje avistada uma riqueza ornitológica selvagem, digna de fazer inveja a muitos e dispendiosos zoos urbanos ou até a longínquos destinos turísticos de birdwatching – ali se descobrem: garças-brancas-pequenas, garças-boieiras, garças-reais, patos-reais, patos-marrequinhos, galinhas d’água, bandos de pombos em jornada, rolas, várias espécies de gaivotas, entre muitas outras espécies de identificação mais exigente.
A riqueza e unicidade deste sítio urbano, em termos de património geológico, geomorfológico, paleontológico, e a sua ligação às origens desta terra, bem como ao florescimento da própria cidade que prosperou à custa do barro que foi buscar às suas entranhas, revelam bem toda a sua especificidade que importa explorar e tirar partido em prol da história, da cultura e da economia desta urbe.
Talvez o regresso do imponente bando não tenha acontecido por acaso, e traga consigo missão nobre, a de nos lembrar de um tempo em que as coisas simples davam o nome às terras e aos lugares. Tal como as aves naturalmente deram o nome a Aveiro, a simples e despretensiosa preservação e requalificação do local, desafogando-o do previsto betão e semeando funções compatíveis envolventes, pode constituir uma excelente oportunidade para a criação de um ímpar e atrativo local lúdico e de divulgação, da história, da cultura, da ciência e da biologia aveirenses. A devida integração com os roteiros temáticos e museológicos da cidade e da região e ainda com os equipamentos e serviços a envolvente próxima (alguns a reinventar como a capela de São Tomás de Aquino e as chaminés das cerâmicas perdidas e outros a potenciar como o Hotel Mélia e o Centro Cultural e de Congressos) conferem alguns ingredientes de sucesso, logo à partida.
O Programa Operacional Regional do Centro 2014-2020, prevê a alocação de fundos europeus dirigidos a projetos que afirmem a sustentabilidade dos territórios, onde se incluem iniciativas relativas à conservação e valorização do património natural e cultural. Esperemos que as forças vivas aveirenses, com responsabilidade na matéria, não esqueçam as garças! Espera-se deles também um ar da sua graça, potenciando os recursos endógenos e únicos aveirenses, no aproveitamento sábio dos recursos financeiros disponibilizados pela União Europeia. Urge assim que se materializem novos projetos e soluções, geradoras de atividades multiplicadoras de empregos e integradoras de várias valências locais, podendo o turismo urbano ser um filão a explorar sustentavelmente por Aveiro, por muitos e muitos anos.
Manuel Teixeira (Publicado no Diário de Aveiro em 12 abril 2015)
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico
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