Não fosse a massa de ar frio de frio siberiano que se aproxima de Aveiro nas próximas semanas e poucos pontos positivos se retirariam da nova moda aveirense, que ambiciosamente, para se alinhar às regiões metropolitanas, passou a ensardinhar aveirenses nas suas carreiras mais concorridas… bem juntos e quentinhos, não vá o apelante fantasma da dívida obrigar a mais cortes, agora na chauffage.
Aveiro, enquanto ousada capital de distrito e permanente candidata a referência regional, carecia de uma solução - desculpem o inevitável pleonasmo - no mínimo, minimamente integrada!
Para que tal acontecesse, seria necessário conhecer a fundo o problema e intervir de forma devidamente abrangente, sem esquecer nenhum modo de transporte, hábitos e cultura dos passageiros, e, sobretudo a necessidade de envolvimento e participação de todos os agentes na construção da solução (ampla participação pública – desejavelmente anterior às decisões consumadas). Trabalhadores, motoristas e técnicos também deveriam ter uma palavra relevante, isto apenas para o bem das desconhecidas “carreiras clandestinas”, recentemente reconhecidas terem estado em funcionamento…!
Não se pode nem se deve mudar de forma tão “brutal” um serviço público de transporte rodoviário de passageiros no município de Aveiro, sem se conhecer como todo o sistema de transportes funciona no seu todo, e mais, nem se perceber para onde se quer orientar de forma congregada esse mesmo todo...! Alterações em sistemas complexos obrigam a planeamento sustentado e a implementações programadas desejavelmente de forma progressiva e faseada.
Infelizmente, parece que foram deslumbrados euros e, a par, deslembrados documentos técnicos recentes promovidos, meritoriamente, pela própria autarquia (Plano Intermunicipal de Mobilidade e Transportes da Região de Aveiro e Plano Municipal de Mobilidade de Aveiro) e suas conclusões que advogam o reforço de soluções interconcelhias, multimodais e verdadeiramente promotoras dos meios de transporte suaves não poluentes (pedonal e ciclável), e ainda, a potenciação dos mal avaliados modos de transporte público de massas que quase apenas "atravessam" o município (linhas férreas, do Norte e do Vouga), deixando à sua passagem densamente povoados territórios por servir - e múltiplos efeitos multiplicadores por rentabilizar. Não devemos ainda esquecer a necessidade do alargamento e “difusão da hora de ponta”, com sensata e equilibrada flexibilização dos horários laborais (ao contrário de medidas irracionais e contraditórias recentes que acotovelam todos para uma mesma e única carreira e para um mesmo minuto de entrada, amplamente incompatível com os horários disponíveis dos transportes públicos…). Falta também a atuação fiscalizadora efetiva dos abusos da mobilidade motorizada individual que se enraíza e aprofunda cada vez mais na cidade, mas bem à vista de todos - estacionamento irregular caótico, verdadeiramente amigo da proliferação da utilização do transporte individual motorizado, promovendo a “elefantização branca” dos grandes investimentos em parqueamento subterrâneo da cidade).
Contraditoriamente ou não..., resultados frescos, fazem desconfiar que apenas se almeja o negócio, e o serviço público de transporte rodoviário vai dando, pouco a pouco, lugar a um lucrativo serviço privado de transporte rodoviário excedentário em promessas de sucessos financeiros, mas deficitário em solidariedade social e em coesão territorial, num município que, à imagem do país, parece que é cada vez mais centro e que o resto apenas paisagem…
Talvez este “brutal” solavanco sentido nos autocarros tenha como efeito colateral benéfico, pregar um susto aos aveirenses, que lhes permitam futuras decisões… mais informadas, mais democráticas, mais respeitadoras e, no final, garantidamente mais respeitadas!
(Publicado - sem cartoons - no Diário de Aveiro em 20 de Janeiro de 2017)
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico
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Manuel Teixeira
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