sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Cultura desportiva municipal

FARAV: Um;  Cultura desportiva municipal: Zero.

Foi no início da semana de 23 de Julho que deceparam, sem aviso, as únicas tabelas de “Street Basket” da cidade – um dos bons exemplos de integração do desporto em espaço urbano de que os aveirenses se podem orgulhar. Esperançados que este seja apenas um resultado isolado num longo campeonato da construção de uma sociedade aveirense mais saudável e integradora, eu e certamente mais alguns das centenas de utilizadores semanais daquele espaço, logo encarámos este episódio pelo lado positivo – certamente levaram as já tão batidas tabelas para “restyling”, por forma a avivarem-lhe as linhas já esbatidas e a pendurarem nos aros já oxidados pelos ares da Ria os desaparecidos cestos, para estes poderem, sem pejo, lançar-se novamente ao vento aveirense, ostentando assim as novas malhas, como que redes das artes da faina, sedentas de capturas, no caso de bolas saltitantes.
Apesar das várias vantagens que podem ser observadas na escolha do local para a realização da FARAV (Feira de Artesanato de Aveiro) deste ano – centralidade, acessibilidade, enquadramento paisagístico, sombras, etc. – uma futura realização do evento no mesmo local não deverá pôr em causa a utilização dos espaços desportivos ali localizados, dado que toda a zona é altamente desafogada e espaço não falta para outras soluções mais criativas e valorizadoras de todas as atividades que ali possam ter lugar durante a feira – onde o desporto pode também ter o seu devido lugar. A propósito fica a sugestão de na próxima edição da FARAV se promover o “desporto artesanal”, trazendo aos dias de feira, a prática dos “tradicionais desportos” dos tempos dos nossos avós, promovendo o artesanato dos artefactos desportivos a par com o convívio intergerações e promovendo ainda a própria saúde pública municipal. Ideias criativas certamente não faltarão para o efeito, que passarão obrigatoriamente pela reinvenção dos jogos populares e que terminarão em atividades náuticas que tirem partido efetivo do majestoso Lago da Fonte Nova logo ali ao lado.
Sendo o reconhecimento das vantagens do desporto em qualquer idade um dogma em qualquer civilização moderna, pelo que não vale a pena sobre isso muito aqui explanar, resta apelar aos responsáveis desta terra para que não demore muito mais tempo a restituição, que já começa a tardar, dum espaço desportivo que apesar de informal, já constitui uma referência na vivência sócio-cultural urbana da cidade de Aveiro. Nele se juntam em convívio descomprometido, saudável e integrador pessoas das mais diversas proveniências – já jogámos naqueles campos com todo o tipo de desconhecidos: velhos, novos, aveirenses, forasteiros, estudantes locais, estudantes de ERASMUS, trabalhadores, turistas, chineses, africanos, americanos, brasileiros, russos, emigrantes, abastados, remediados, skaters, etc.
Estas palavras são aqui escritas sobretudo com o intuito de contribuir para a sensibilização dos responsáveis menos atentos para a importância que este tipo de espaços desportivos de proximidade, com alcance local, pode ter na sanidade de cada unidade de vizinhança em particular e na sociedade urbana em geral. Fica ainda aqui o desafio lançado de este tipo de equipamentos proliferem no futuro (campos de jogos diversos, sem barreiras, de utilização livre em espaço urbano) e passem a constituir uma aposta séria de todas as autarquias locais. Aproveita-se por fim, para lançar o repto de concretizar o sonho de um dia se “abrirem as portas” de todos os espaços desportivos escolares de exterior, à utilização dos cidadãos, naturalmente fora dos seus calendários de funcionamento – os ganhos serão evidentes na rentabilização económico-social dos equipamentos, na saúde pública, na interação e integração social anteriormente referidas e na possibilidade de ocupação saudável dos jovens durante os fins-de-semana e períodos de férias.

Manuel Teixeira  
(Publicado no Diário de Aveiro de 10 de Agosto de 2012)

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