Se a lua não tivesse fases, seria como que um deliberado erro de paralaxe divino, perpetrado por alguns que não querem ver o que todos veem. Ou pelo contrário, que não querem que todos vejam o que apenas alguns veem... Seria como uma imensa obra em curso, aparentemente sem prazo de entrega nem termo de resolução. Seria como que um lustre sem interruptor. Ou esbeltos vergéis centrais encerrados em Agosto e Setembro, incapazes de condignamente convidar os afluentes transeuntes da sua e doutras galáxias, a ali entrar, merendar, passear, permanecer… tal como em tantas outras voltas ao sol sucedera. Seria como um prometido santuário barricado, com ainda crentes se amontoando à porta, mas sem hora de abertura. Seria como que um negro lago de jardim em versão de ria sem marés, ocultando o fétido e negro lodo. Seria como um extenso empreendimento onde tudo se quer construir, mas onde os recursos não abonam para tanto fazer em tão escassa demora. Seria um monótono nada, um monótono tudo ou ainda um monótono intermédio onde parece que nada se acaba… Por isso foram feitas as fases…, não necessariamente para as grandes obras como a muralha da China ou as pirâmides do Egipto, mas sim tanto para as obras grandes como para as pequenas, e ainda também para a lua. Fases…! Para que o já finado Neil Amstrong (7AGO2012), se algum dia reencarnasse, não tivesse que chorar na sua próxima viagem, nem à nossa lua, nem à nossa terra. Talvez por já não precisar sair desta saudosa admirável terra para descortinar a sua saudosa lua. Talvez por ao redor de qualquer manco banco de jardim ou artéria periférica vislumbrar uma cratera, ou quiçá, por o seu passeio lunar poder ser também cá perigosamente interrompido por duradouras valas, valetas, montes de entulho e copioso equipamento urbano partido, talvez deliberadamente evocando despejo orbital… Prevê-se que o turismo espacial arranque em 2016, agora imagine-se que se viaja para uma lua sem fases ou, de forma ainda mais esclarecedora, imagine-se que se fica mesmo pelo espaço terreno e se vai para a República Dominicana, mas por acaso, todas as praias estão em obras… Como começa a ficar evidente, as fases, os faseamentos, o seu cumprimento e também o seu claro conhecimento, são fundamentais para a sustentável manutenção da ordem natural do universo, das coisas terrenas, dos hábitos, dos comércios, dos empregos, das economias locais... O que ainda nos vai valendo é os terráqueos daqui vão sendo brandos… e parecem contentar-se em apenas vislumbrar os raios do sol alumiar as arbóreas copas por vedações de estaleiros escondidas, ainda que para tal tenham de recorrer a potente telescópio. Sem a fase de lua nova, nada de novo se anuncia, nem uma nova maré, nem o anseio por uma futura fase em cheio, nem ainda o término crescente de um prazo e muito menos a distância minguante a uma data…! É por estas e por outras que as fases foram feitas para a realização de obras, exatamente por motivos da lua…!
Manuel Teixeira(artigo enviado em 10 de Setembro de 2012, para publicação no Diário de Aveiro)
(...a propósito das demoradas obras no Jardim D. Pedro V e Baixa de Sto. Antonio - que encerraram os jardins na sua totalidade em cerca de dois anos...)
O uso exigente do território pode constituir, por si só, um motor de desenvolvimento sustentável através da potenciação dos recursos endógenos e das sinergias geográficas e socioeconómicas ! Cabe aos projetistas, planeadores e decisores, desenvolverem novas ideias ou simplesmente reinventarem as boas práticas ancestrais...! Venha aqui refletir!
terça-feira, 9 de outubro de 2012
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Pontes sem margens
Hoje, depois de acordar em tumulto, esforcei-me para sonhar acordado, sim, sonhar e acordado, pois a noite, nestas paragens e em tempos de “troika”… pouco mais nos consegue acarrear que insónias ou tenebrosos pesadelos que nos seus laivos mais eufemísticos nos fazem despertar em descrença, fazendo-nos transitar de novo para a insónia.
Assim, pensei que talvez ensaiando um sonho acordado, conseguisse conduzir um enredo a meu gosto, singelo e facilmente compreensível por todos. Para o efeito tentei inspirar-me em assuntos terrenos, não me refiro aos do planeta, mas sim aos desta terra. Passaram-me logo repentinamente muitos pela cabeça, de imediato também vi que a tarefa iria ser deveras laboriosa – como poderei eu conduzir um sonho aprazível se os objetos que se me afiguram logo em primeiro plano são barcos passeando decapitados, matagais centrais sitiados, borrões sarnando comboios, comboios e carreiras fantasma, dispersos cogumelos de betão estouvados na desimpedida planura, uma florescente urbanidade desdentada, florestas em fogo e ruas novas sem árvores ou com pouca saída, parques de automóveis policiados por pedintes, sinalética virtual convidando ao estacionamento selvagem, pontes sem sustentação, pobres faraós pobres, salinas de tons doces e pútridos, entulhadas marinhas, sustentabilidades sem margens…Dado a dimensão da tarefa depressa desisti do fado e encetei por me agarrar ao surreal que desejo para esta e outras tantas terras, a utopia da compreensão das prioridades, das obras, das ações simples, que por todos possam ser inteligíveis, sem descriminações nem de intelecto nem de qualquer outro tipo! Sonhei então com uma ponte sustentável, não por ser erigida de materiais perecíveis, nem pelas nevrálgicas razões económicas, mas apenas e simplesmente por que se sustenta em sólidas margens que manifestamente desejam ser ligadas, onde o autismo quer ir a jogo e o maior dos individualistas também nele quer participar. Mais que a enfatuada avidez por extravagantes invenções de novas rodas, já mais que inventadas, o que urge nos dias de hoje são criativos pactos de regime, participativos e transversais a todos os grupos, nas mais pequenas verdades que apesar de pequenas, se feitas entender por todos, são elas que mais tarde se revelam em grandes valores, pilares estratégicos do futuro das pequenas, grandes sociedades. Neste sonho acordado, vejo as grandes cidades do futuro exibindo as virtudes das mais pequenas aldeias, onde quando os recursos escasseiam, por todos são partilhados, preservados, protegidos e valorizados. Onde a festança é feita com parcimónia e o pelourinho continua a manter a sua função, por todos apreendida... Onde a indiferença jamais se coíbe de chamar à atenção o mais desatento... Onde tanto nas pequenas ações como nas grandes obras o elevado grau de exigência e responsabilidade persiste, pontes para localizações mais justas…!
Manuel Teixeira (Artigo publicado no Diário de Aveiro de 27 de Agosto de 2012)
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Cultura desportiva municipal
FARAV: Um; Cultura desportiva municipal: Zero.
Foi no início da semana de 23 de Julho que deceparam, sem aviso, as únicas tabelas de “Street Basket” da cidade – um dos bons exemplos de integração do desporto em espaço urbano de que os aveirenses se podem orgulhar. Esperançados que este seja apenas um resultado isolado num longo campeonato da construção de uma sociedade aveirense mais saudável e integradora, eu e certamente mais alguns das centenas de utilizadores semanais daquele espaço, logo encarámos este episódio pelo lado positivo – certamente levaram as já tão batidas tabelas para “restyling”, por forma a avivarem-lhe as linhas já esbatidas e a pendurarem nos aros já oxidados pelos ares da Ria os desaparecidos cestos, para estes poderem, sem pejo, lançar-se novamente ao vento aveirense, ostentando assim as novas malhas, como que redes das artes da faina, sedentas de capturas, no caso de bolas saltitantes.
Apesar das várias vantagens que podem ser observadas na escolha do local para a realização da FARAV (Feira de Artesanato de Aveiro) deste ano – centralidade, acessibilidade, enquadramento paisagístico, sombras, etc. – uma futura realização do evento no mesmo local não deverá pôr em causa a utilização dos espaços desportivos ali localizados, dado que toda a zona é altamente desafogada e espaço não falta para outras soluções mais criativas e valorizadoras de todas as atividades que ali possam ter lugar durante a feira – onde o desporto pode também ter o seu devido lugar. A propósito fica a sugestão de na próxima edição da FARAV se promover o “desporto artesanal”, trazendo aos dias de feira, a prática dos “tradicionais desportos” dos tempos dos nossos avós, promovendo o artesanato dos artefactos desportivos a par com o convívio intergerações e promovendo ainda a própria saúde pública municipal. Ideias criativas certamente não faltarão para o efeito, que passarão obrigatoriamente pela reinvenção dos jogos populares e que terminarão em atividades náuticas que tirem partido efetivo do majestoso Lago da Fonte Nova logo ali ao lado.
Sendo o reconhecimento das vantagens do desporto em qualquer idade um dogma em qualquer civilização moderna, pelo que não vale a pena sobre isso muito aqui explanar, resta apelar aos responsáveis desta terra para que não demore muito mais tempo a restituição, que já começa a tardar, dum espaço desportivo que apesar de informal, já constitui uma referência na vivência sócio-cultural urbana da cidade de Aveiro. Nele se juntam em convívio descomprometido, saudável e integrador pessoas das mais diversas proveniências – já jogámos naqueles campos com todo o tipo de desconhecidos: velhos, novos, aveirenses, forasteiros, estudantes locais, estudantes de ERASMUS, trabalhadores, turistas, chineses, africanos, americanos, brasileiros, russos, emigrantes, abastados, remediados, skaters, etc.
Estas palavras são aqui escritas sobretudo com o intuito de contribuir para a sensibilização dos responsáveis menos atentos para a importância que este tipo de espaços desportivos de proximidade, com alcance local, pode ter na sanidade de cada unidade de vizinhança em particular e na sociedade urbana em geral. Fica ainda aqui o desafio lançado de este tipo de equipamentos proliferem no futuro (campos de jogos diversos, sem barreiras, de utilização livre em espaço urbano) e passem a constituir uma aposta séria de todas as autarquias locais. Aproveita-se por fim, para lançar o repto de concretizar o sonho de um dia se “abrirem as portas” de todos os espaços desportivos escolares de exterior, à utilização dos cidadãos, naturalmente fora dos seus calendários de funcionamento – os ganhos serão evidentes na rentabilização económico-social dos equipamentos, na saúde pública, na interação e integração social anteriormente referidas e na possibilidade de ocupação saudável dos jovens durante os fins-de-semana e períodos de férias.
Manuel Teixeira
(Publicado no Diário de Aveiro de 10 de Agosto de 2012)
Foi no início da semana de 23 de Julho que deceparam, sem aviso, as únicas tabelas de “Street Basket” da cidade – um dos bons exemplos de integração do desporto em espaço urbano de que os aveirenses se podem orgulhar. Esperançados que este seja apenas um resultado isolado num longo campeonato da construção de uma sociedade aveirense mais saudável e integradora, eu e certamente mais alguns das centenas de utilizadores semanais daquele espaço, logo encarámos este episódio pelo lado positivo – certamente levaram as já tão batidas tabelas para “restyling”, por forma a avivarem-lhe as linhas já esbatidas e a pendurarem nos aros já oxidados pelos ares da Ria os desaparecidos cestos, para estes poderem, sem pejo, lançar-se novamente ao vento aveirense, ostentando assim as novas malhas, como que redes das artes da faina, sedentas de capturas, no caso de bolas saltitantes.
Apesar das várias vantagens que podem ser observadas na escolha do local para a realização da FARAV (Feira de Artesanato de Aveiro) deste ano – centralidade, acessibilidade, enquadramento paisagístico, sombras, etc. – uma futura realização do evento no mesmo local não deverá pôr em causa a utilização dos espaços desportivos ali localizados, dado que toda a zona é altamente desafogada e espaço não falta para outras soluções mais criativas e valorizadoras de todas as atividades que ali possam ter lugar durante a feira – onde o desporto pode também ter o seu devido lugar. A propósito fica a sugestão de na próxima edição da FARAV se promover o “desporto artesanal”, trazendo aos dias de feira, a prática dos “tradicionais desportos” dos tempos dos nossos avós, promovendo o artesanato dos artefactos desportivos a par com o convívio intergerações e promovendo ainda a própria saúde pública municipal. Ideias criativas certamente não faltarão para o efeito, que passarão obrigatoriamente pela reinvenção dos jogos populares e que terminarão em atividades náuticas que tirem partido efetivo do majestoso Lago da Fonte Nova logo ali ao lado.
Sendo o reconhecimento das vantagens do desporto em qualquer idade um dogma em qualquer civilização moderna, pelo que não vale a pena sobre isso muito aqui explanar, resta apelar aos responsáveis desta terra para que não demore muito mais tempo a restituição, que já começa a tardar, dum espaço desportivo que apesar de informal, já constitui uma referência na vivência sócio-cultural urbana da cidade de Aveiro. Nele se juntam em convívio descomprometido, saudável e integrador pessoas das mais diversas proveniências – já jogámos naqueles campos com todo o tipo de desconhecidos: velhos, novos, aveirenses, forasteiros, estudantes locais, estudantes de ERASMUS, trabalhadores, turistas, chineses, africanos, americanos, brasileiros, russos, emigrantes, abastados, remediados, skaters, etc.
Estas palavras são aqui escritas sobretudo com o intuito de contribuir para a sensibilização dos responsáveis menos atentos para a importância que este tipo de espaços desportivos de proximidade, com alcance local, pode ter na sanidade de cada unidade de vizinhança em particular e na sociedade urbana em geral. Fica ainda aqui o desafio lançado de este tipo de equipamentos proliferem no futuro (campos de jogos diversos, sem barreiras, de utilização livre em espaço urbano) e passem a constituir uma aposta séria de todas as autarquias locais. Aproveita-se por fim, para lançar o repto de concretizar o sonho de um dia se “abrirem as portas” de todos os espaços desportivos escolares de exterior, à utilização dos cidadãos, naturalmente fora dos seus calendários de funcionamento – os ganhos serão evidentes na rentabilização económico-social dos equipamentos, na saúde pública, na interação e integração social anteriormente referidas e na possibilidade de ocupação saudável dos jovens durante os fins-de-semana e períodos de férias.
Manuel Teixeira
(Publicado no Diário de Aveiro de 10 de Agosto de 2012)
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