Em Aveiro, o turismo ainda
continua a ser, mais um movimento temporário de pessoas, do que o seu estado de
permanência, desejavelmente prolongado.
Para facilmente se perceber a
dimensão destas palavras, basta escolher apenas três operadores
marítimo-turísticos ao acaso da dezena que se encontra a laborar nos canais da
cidade, e, experimentar-se fazer as três viagens numa mesma tarde.
Espante-se! – quase parece que se visitou três cidades diferentes em menos de três horas…
Espante-se! – quase parece que se visitou três cidades diferentes em menos de três horas…

Abstenho-me de aqui reproduzir
“algumas das mais belas passagens”, ora para não estragar o efeito surpresa
daqueles que ainda não navegaram na experiência, ora para não ferir,
eventualmente, a suscetibilidade de quem tão genuinamente as proferiu,
candidamente convicto de majestoso serviço prestado à cidade e à região.
Esta jocosa viagem fluvial, não
deixa de ao mesmo tempo, navegar em tragédia, pois estas gentes dão o que de
melhor que têm, sem porém conhecerem a verdadeira dimensão do que podem fazer
pela sua terra e região, isto, se devidamente munidos de verdadeiros lemes que
lhes orientem sábio discurso, não para erráticas águas, mas para um mesmo rumo
comum, culminante em porto seguro de bonança e fartura duradouras.
Falo da necessidade urgente das
entidades com competências na matéria promoverem a redação de um criterioso
discurso-guia que valorize condignamente (e economicamente) as viagens, a ser
seguido com rigor pelos guias dos vários operadores! Associado, deverão ser
promovidas as respetivas ações formativas - a regulação não pode ficar só pelas
taxas e concessões, há serviço a prestar à comunidade, a bem da sua economia e
das suas gentes!
Um destino que tanto tem para
oferecer, continua emaranhado em efémeros panfletos, desdobráveis e sites intermitentes, resultantes das
boas vontades, dos louváveis esforços de instituições e das forças vivas da
terra, que tão laboriosamente lutam contra a pouco expedita “governação
articulada” de tão vasta oferta. Será que o
Turismo do Centro e o Aveiro Welcome
Center se olham entre margens do Canal Central como que cagaréus e
ceboleiros desavindos, quiçá à espera conciliar esforços e inovações para uma
década vindoura?
A congregação esforços e
competências de articulação, de âmbito regional e municipal, numa única
estrutura (eventualmente participada por vários organismos), deveria constar
das reclamações dos aparentemente pouco exigentes agentes económicos, no
sentido de se ambicionarem políticas turísticas locais sustentáveis e
inovadoras, orientadas para uma maior valorização da exploração dos recursos
existentes, devidamente integrada, em prol da geração de maiores efeitos
multiplicadores, tão desejados.
O investimento que urge, não é de
grande monta, e tão pouco de pouco betão! Ainda muito falta à visão, à
estratégia, à produção de conteúdos - “os verdadeiramente úteis”-, aos
procedimentos rotineiros de atualização desses conteúdos, e à mais da elementar
formação profissional dos agentes – “prática e cirurgicamente orientada”!
Se institucional vontade
houvesse, Aveiro poderia mesmo vir a ambicionar ter um “posto de turismo
flutuante”, em cada uma das embarcações típicas da Ria de Aveiro dedicada aos
passeios turísticos e em cada trabalhador um verdadeiro embaixador do turismo
local e regional – divulgando criteriosamente a história, o património e todos
os outros atrativos, aos cerca de 200 milhares (2012) de turistas anuais, que
atualmente saem das embarcações sem a devida noção do quanto mais ainda há para
visitar na região (praias, parques de natureza, paisagens, caves vínicas,
gastronomias, termas, museus, património artístico, arquitetónico, religioso e
arqueológico, etc.).
Também a integração da bilhética
turística – incluindo bilhética de grupo e de operadores turísticos - deverá
constituir outra ambição prioritária, promovendo descontos crescentes em função
do número de atrações turísticas visitadas na região. Se tal se vier a
concretizar, a cidade e a região de Aveiro poderão ganhar mais tempo de estadia
dos seus turistas, garantindo mais umas horas para adicional almoço, jantar ou
dormida... O turismo, os seus empreendedores, os seus trabalhadores, a cidade e
a região, todos ganharão.

Por fim, se nos lembrarmos que “combater a sazonalidade e aumentar a estadia média constituem desafios institucionais para o turismo na nossa região”, porque não começar a ponderar-se a criação de uma doca de embarque coberta (ou a revitalização para o efeito da que fica junto ao Cais do Paraíso e que se encontra em estado avançado de degradação), devidamente associada a um design adequado para barcos panorâmicos cabinados renderem os mais típicos (entre outras soluções), durante a longa e chuvosa invernia?
Quem sabe no futuro, o “movimento temporário de pessoas” venha dar lugar a uma verdadeira “demorada estadia temporária de pessoas”, na nossa cidade e na nossa região…!
(Publicado no Diário de Aveiro em 25 de Julho de 2015)
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico
Manuel Teixeira,
23 Julho 2015